Zé do Efeito e a Magia no Futebol

Gosto de conversar com os mais velhos pois, vira e mexe, eles soltam alguma estória ou pérola de antigamente. Nesses dias, estava conversando com meu velho pai e ele, falando sobre um lance bizarro no jogo final da copa libertadores da América, comentou sobre um personagem de Chico Anysio que ele viu há duas décadas atrás, praticamente. Um tal de Zé do Efeito.

Eu procurei na internet e, aparentemente, o Zé do Efeito é uma criação do jornalista e cronista esportivo Armando Nogueira, já falecido. Não achei a crônica original na internet, a qual Chico usou de inspiração para fazer o personagem, que tanto gostou de ler.

Aparentemente, sua primeira e única aparição consta no livro Na Grande Área, lançado em 1966. Não achei uma cópia fácil e nova, nem o livro para baixar. Talvez compre algum usado na Estante Virtual, mas não agora, o final de ano é sempre uma época conturbada financeiramente.

Bem, se eu comprar o livro, trago o original aqui. Como não o tenho, farei uma adaptação em minhas palavras só sabendo o contexto da história e algumas informações aparentes que vi na internet, como o fato do Zé do Efeito jogar no Sapiranga FC.

Espero que gostem.

O Zé do Efeito e o Pênalti na Final do Campeonato

Era um domingo de sol. O estádio estava meio cheio, arquibancadas completas só de um lado, pois o campo de terra, já velho e com a grama batida, tinha o costume de ser devorado pelo sol em um de seus lados durante as tardes ensolaradas de verão.

Era a final do campeonato estadual. As duas torcidas, divididas pela grade de metal, bradavam por seus times, já antevendo a euforia que uma vitória em final de campeonato pode causar. Todos se hidratando, bebendo suas cervejas baratas em copos plásticos e comendo os típicos petiscos de estádio (pipoca doce e amendoim torrado) enquanto ruminam a tensão do momento.

Naquela tarde, só a vitória interessava aos dois times, mas mais ainda ao Sapiranga FC, que vinha de um jejum de 5 anos sem chegar a final e era o azarão daquela tarde. Eu, só assistindo e documentando, escutava os brados da torcida por seu grande craque, o Zé do Efeito. Naquela tarde, o dito cujo estava no banco. Vinha de uma lesão e, muito provavelmente, não entraria no apito inicial. Ficava a dúvida se aguentaria entrar em campo em algum momento.

Zé do Efeito havia se tornado famoso na região, principalmente, por seus gols mágicos, cheios de efeito. Daí o nome. O jogador, de início, não aceitou o apelido e preferia ser chamado pelo nome de nascença (José), mas, com o tempo, se curvou aos gritos da torcida, abraçando o carinhoso apelido.

O juiz apitou e a bola rolou.

O jogo estava morno até o final do primeiro tempo, nenhum dos times estava disposto a atacar. Com medo de errar e, por conseguinte, não mais conseguir buscar a vitória, o jogo acabou se concentrando no meio de campo.

Foi na volta do intervalo, quando a torcida começou a gritar pelo nome do Zé do Efeito, que o técnico do Sapiranga começou a sentir a pressão de deixar seu craque no banco.

Aguardou ainda 15 minutos e, faltando 30 para terminar o jogo, chamou seu fiel escudeiro.

Já aquecido, Zé do Efeito aguardou o apito de anuência do árbitro e o soerguer da placa de plástico onde jazia o número 10, o mesmo costurado em sua camisa. Saia Roberto para a entrada do Zé. A torcida gritava seu nome, esperando que ele, de alguma forma, pudesse mudar a partida.

O jogo continuou truncado, mas aos 45 minutos, quando tudo indicava que a partida seria decidida nos pênaltis, surgiu a grande oportunidade.

Zé do Efeito entrou na área, driblou dois jogadores e foi derrubado pelo goleiro. Era pênalti!

A torcida do Sapiranga foi a loucura. Clamava pela batida do Zé, que se dirigiu para a marcação da cal.

Foram longos segundos, que pareciam mais horas ou anos, aqueles que se comprimiram entre o momento do ajuste da bola e do apito, permitindo a batida.

O Zé correu. Parecia que chutaria com toda a força do mundo. A arquibancada silenciou-se por um ínfimo instante. Mas a batida saiu fraca e foi morrer nos braços do goleiro.

A torcida adversária zombava com vaias dirigidas ao Zé do Efeito nas arquibancadas. O goleiro, com a bola nas mãos, ergueu-a e deu um chutão. Aí aconteceu o inacreditável, o inconcebível.

Uma lufada de vento correu com toda força na direção oposta ao chute. A bola, que antes se dirigia ao meio do campo, voltou com o efeito, encobrindo o goleiro.

A torcida do Sapiranga rugiu o grito de GOLLLLL!!!! e, naquela tarde, acabava o jejum de títulos.

Naquele dia, o efeito do Zé veio atrasado.

Abraços!!!

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2 anos atrás

mito!mito!mito!mito!mito!mito!mito!mito! hahahaha
zé efeito é o Braddock do futebol tupiniquim

o texto daria uma bom curta de animação

Neófito
2 anos atrás

Fala, Mago.
Grande Chico! Tive a sorte de acompanhar algumas versões de seus vários shows, quando guri e adolescente.
Desconheço o Zé do Efeito, pois Chico escreveu dezenas de livros e talvez este personagem esteja apenas na literatura. Mas recordo bem o formidável Coalhada, o ex campeão vesgo!
Zé do Efeito é o representante máximo do brasileirismo: só conta com a sorte.
Eu gostava de ouvir todo tipo de história de pessoas mais velhas, quando guri. Hoje, não mais. Já estou velho e me sinto ainda mais do que a idade que possuo!
Abraços!

Neófito
2 anos atrás
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