The Road Not Taken

Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;

Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that the passing there
Had worn them really about the same,

And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.

I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I—
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.

The Road Not Taken - Robert Frost

Como o tempo passa rápido. Escrevo essas palavras com isso em mente. Já se foram dois meses e, mesmo planejando, as palavras não saíram nas páginas em branco. Nos últimos tempos venho escrevendo bastante em papel, no formato de entradas de diário, mas tenho uma certa preguiça em passar para o digital.

Este foi um mês complicado. Foi bom e ruim, ao mesmo tempo. Meu tempo foi escasso, mas nos intervalos tive diversas reflexões sobre mim mesmo, mesmo que isso pareça uma redundância, afinal, sempre estamos pensando sobre nós mesmos.

No meio de Julho recebi a notícia que havia passado num programa de mestrado de uma grande universidade pública. No site nada foi publicado, mas recebi um e-mail da secretaria dando os parabéns e com os documentos a serem preenchidos assim como explicando o processo de matrícula.

Como eu havia feito o exame bastante consciente (digo, não fui como marinheiro perdido no barco), sabia que nos dois últimos semestres as aulas haviam sido ministradas online, e que seria possível me matricular e continuar trabalhando, podendo gravar as aulas no PC e ficar de corpo presente, assistindo aos finais de semana com mais foco e indo a faculdade esporadicamente para realizar algumas atividades e, também, para começar a desenvolver minha tese, que pretendia fazer no decorrer do primeiro ano.

Imagine minha surpresa quando descobri que as aulas desse próximo semestre voltarão a ser presenciais.

Quando a sua previsão sobre os professores estarem gostando de dar aula online dá errado!!!

Enfim, como as aulas de mestrados acadêmicos (strictu sensu, como chamam) são em horários bem inconvenientes para quem trabalha (sério, as aulas são no meio do dia, manhã e tarde, não me surpreende que os mestrandos estejam sempre reclamando que estão fodidos na vida), terei que escolher entre deixar de trabalhar no meu emprego principal ou continuar a estudar, daí minha reflexão sobre os momentos e escolhas.

Le temps qui passe et n’arrête jamais

Alguns anos atrás eu estava bastante vidrado num escritor japonês que, à época, estava no mainstream. Era Haruki Murakami. Li vários livros dele, como Caçando Carneiros, 1Q84, Norwegian Wood e Homens Sem Mulheres. Entretanto, apesar de gostar bastante dos contos e romances, acho que me identifiquei mais com os livros de Murakami sobre corridas de maratonas.

Identificação não por eu também ser corredor (pois jamais corri nem os 100 metros rasos sem ficar ofegante), mas pela sua história de ser um cara comum num mundo que parecia desestruturado e acabou por tentativa e erro chegando em um lugar mais organizado, mesmo que parecendo por acaso (inclusive, a história de como ele escreveu o primeiro livro é bastante interessante), que ele contava nesses livros.

Bem, num desses livros, chamado Do que eu falo quando falo de corrida, Murakami fala em um capítulo sobre o tempo e sobre nossa percepção de como ele passa para nós. Como exemplo, ele cita Mick Jagger, que quando tinha 20 anos disse certa vez que jamais tocaria Satisfaction após os 45´:

Estou no fim da casa dos cinquenta, agora. Quando era novo, nunca imaginei que o século XXI chegaria de fato e que, piadas à parte, eu faria cinquenta anos. Na teoria, é claro, é uma verdade óbvia que algum dia, se nada acontecesse, o século XXI chegaria e eu faria cinco décadas de vida. Quando eu era jovem, pedir que eu me imaginasse com cinquenta anos era tão difícil quanto me pedir para imaginar, concretamente, como era o mundo após a morte. Mick Jagger uma vez alardeou que ‘Prefiro morrer a continuar cantando Satisfaction quando estiver com quarenta e cinco anos’. Mas agora ele têm mais de sessenta e continua cantando Satisfaction. Algumas pessoas acham isso engraçado, mas eu não. Quando era novo, Mick Jagger não conseguia se imaginar com quarenta e cinco anos. Quando eu era novo, era igual. Como posso rir de Mick Jagger? De jeito nenhum. Aconteceu apenas de eu não ter sido cantor de rock, na juventude. Ninguém se lembra das coisas estúpidas que eu provavelmente disse na época, de modo que nunca vão poder citá-las, jogando de volta na minha cara. É a única diferença.

Haruki Murakami

Eu também não conseguiria me imaginar o que sou hoje há dez anos atrás. Lembro de uma colega de classe ter dito, certa vez, de forma despretensiosa até, que aos trinta e cinco ela já achava que a pessoa era velha. Hoje, estou chegando a casa dos trinta e vejo gente que fala que trinta e cinco são os novos jovens. Essa menina não conseguia se enxergar lá aos 35, apesar de, caso ela não tenha falecido, hoje, estar chegando bem próximo disso.

Imagino o que o eu de dez anos atrás faria hoje e como o eu de dez anos adiante me observará. São duas entidades que habitam em mim, de forma dúbia, pois ambos são eu, ao mesmo tempo. A única certeza que tenho é que o tempo passará e o eu de hoje se tornará o eu do futuro, assim como o eu do passado se tornou, através de escolhas, o que está escrevendo esse texto meio desconexo.

On n’est jamais 30 ans une deuxième fois

Sei que isso é uma redundância, e nunca seremos o que somos novamente. Nunca terei trinta uma segunda vez.

Sei também que as escolhas que eu fizer hoje, podem vir a definir quem o “eu” adiante se tornará (caso isso não esteja escrito na providência divina, claro).

Cada segundo que passa é novo e, ao mesmo tempo, redutivo. Hoje, mais velho, estou mais próximo do fim e começo a enxergar responsabilidades que antes não tinha, ao mesmo tempo em que ainda sou, de certa forma, livre de outras, por não ser tão velho ainda.

Ter essa liberdade me colocou numa situação complicada: deveria eu fazer a loucura de largar meu emprego principal atual e tentar voltar a estudar full time tentando receber uma bolsa e renda só do meu emprego secundário?

Sei que fazer mestrado pode ser um tiro no pé. Pode ser mais difícil conseguir emprego na indústria privada posteriormente, pode ser difícil conseguir dar aulas devido a alta concorrência das universidades. Pode ser que seja chato, que eu acabe não gostando. Pode ser que eu passe anos atrasando minhas poupanças para uma aposentadoria. Pode ser que seja um sacrifício desnecessário. Pode ser que eu já seja um pouco “velho” para tentar “só estudar” durante o dia.

Ao mesmo tempo, podem haver diversos benefícios tais como, me tornar um profundo conhecedor de um tema em específico, abrir portas para um intercâmbio universitário e possível futura imigração, abrir portas para lecionar, poder participar de pesquisas e trazer um maior reconhecimento sobre o conhecimento que tenho atualmente, além de ser a porta para um doutorado e para melhores notas em concursos de engenheiro (que demandam títulos como diferenciação).

Mas o que mais me bateu foi a questão do “fazer uma loucura”, ou, ao menos, algo diferente do normal. Na cabeça da maioria, isto é uma loucura. Mas eu nunca agi de maneira louca, não saberia avaliar com certeza. Desde que me conheço por gente, sempre segui as regras e tentava evitar ao máximo qualquer assimetria que pudesse aparecer. Era o chato, o que não tinha histórias legais pois vivia no cotidiano. Nunca soube o que era fazer algo louco. E isso bateu forte em mim, o de fazer algo fora do contexto, algo que tenho vontade de fazer mas não é o normal.

Decisões são assim, fazem você balançar, pois, de certa forma, você está decidindo qual “eu” você vai ceifar agora para percorrer um dos dois caminhos e, geralmente, ambos são difíceis de serem largados.

Percebo que, com o passar do tempo, a maioria dos meus colegas ficaram assim, como eu era anteriormente. Seguiram caminhos diversos, mas parecidos, no geral. Terminaram a faculdade, começaram num emprego, estão na tentativa de crescer. Alguns nem gostam do que fazem. Os finais de semana são quase todos iguais e a vida virou uma rotina.

Achei que essa reflexão sobre o tempo e sobre aproveitar janelas onde ainda existem possibilidades de mudar seria interessante.

Não temos garantias sobre nada e tudo que sabemos é que vamos morrer em algum momento, então, por que não levar em conta nossos desejos e vontades, quando as responsabilidades ainda não nos aprisionaram num mundo de futuros e certezas quase absolutas? Por que não tentar agora, se talvez não teremos uma segunda chance no futuro? É uma reflexão interessante de se fazer, quais decisões tomar ou não.

Tomar a estrada “não usual” pode ser difícil para quem já foi muito fundo no caminho usual. Mas, vez ou outra, ainda abrem-se brechas para tomar o caminho deixado de lado. Se será uma boa escolha ou não, isso só o futuro dirá, mas ainda assim acho sempre melhor tentar que viver no remorso de não ter no mínimo tentado.

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Blog do Neófito
2 anos atrás

Olá, Mago.

Primeiramente, parabéns pela aprovação. Segundo: ótima escolha para a epígrafe. Que poema lindo. Quantas estradas segui e quantas abandonei. E as por onde sequer iniciei… Mas, sem remorso. Faz parte. Tenho pouco tempo sobre a Terra e apenas duas pernas.

“mas tenho uma certa preguiça em passar para o digital.”
– Isso ocorre comigo. Identifiquei esse problema ainda perto de meus 18 anos e, assim, parei de escrever à mão, pois percebi que seria mais produtivo e que teria sempre dificuldades para transcrever algo, teclando, já escrito à mão.

“Haruki Murakami”
– Recordo que esse autor andou bastante em evidência há pouco tempo. Nunca lhe li nada.

“nunca seremos o que somos novamente”
– O homem que volta ao mesmo rio blá blá. Enfim: Heráclito já sugeria que ficássemos de boa quanto a isso há mais de 2000 anos.

“largar meu emprego principal”
– Vamos lá. Se você postou isso, então aceita sugestões. Você até onde sei não tem filho para alimentar. Deve ajudar um pouco seus pais e precisa, claro, se manter. Quanto a você, dá para apertar os cintos durante um tempo. Minha cunhada só teve estresse com Mestrado durante um ano. Depois foi tudo mais tranquilo. Um mestrado numa pública é um conquista útil para todo seu futuro profissional, pois valorizamos bastante títulos em nosso país. Na pior das hipóteses quanto ao mercado, há uma enxurrada de universidades particulares onde você pode lecionar. Creio que, em empresas privadas, também fica bacana no currículo – embora queiram resultados, obviamente. E, como disse, é título em seleções públicas. Eu não pensaria duas vezes. Você é jovem. Pode se dar ao luxo de abrir mão desse emprego.

Te contar uma história. Quando estava na faculdade, fui nomeado para o cargo que hoje chamamos de Técnico do Seguro Social. Estava eu com 18 anos de idade, graduando em Direito e estagiando no MPF com bolsa (hoje, é uma bolsa em torno de mil reais, acho). Mas, para ingressar no cargo, eu precisaria trancar o curso algum tempo, pois me mandariam para outra cidade. Foi chato, claro. Foi quase deprimente, na verdade. Mas abri mão do cargo. E, hoje, vejo que foi a melhor decisão.

“Nunca soube o que era fazer algo louco”
– Parabéns. Já me meti em tudo o quanto é merda dado o louco por aí. Loucurinhas e fortes emoções só são bacanas no cinema,

“Não temos garantias sobre nada e tudo que sabemos é que vamos morrer em algum momento”
– Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela, ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela de uma aquarela
Que um dia enfim (descolorirá)

Abraços!

Blog do Neófito
2 anos atrás
Reply to  Matheus

Então bola pra frente e foco no mestrado!

scant
scant
2 anos atrás

monta um canal no youtube sobre o mestrado – essa odisseia em vídeo pode te ajudar no futuro

converse com seus empregadores – talvez valha mais pena para eles investir na sua formação que trocá-lo por outro escravo, hehe

scant
scant
2 anos atrás
Reply to  Matheus

“No fim, decidi por sair. Vamos ver no que vai dar.” – deve ter sido o melhor pra vc . outra opção era eles ou outra empresa te contratar diretamente como PJ

Quanto ao Youtube, + blogs” – cara, sempre é possível manter algum deles por amor. assim como o hábito da escrita que vc tem. se der $$$, ótimo. se não der, ainda assim poderá ser divertido. sempre haverá nichos para artesãos, hehe

faça o que te der mais prazer

a vida é curta

abs!

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