A Inutilidade de Ser Invisível

De todos os superpoderes que alguém supostamente poderia angariar, ser invisível, talvez, seja um dos piores, no geral.

Ser extremamente forte traz uma vantagem na pancadaria bruta. Ter algum poder de expelir fogo, água, ou algum elemento pelos membros do corpo pode também ser vantajoso. Poder voar, poder respirar em baixo d’água também são feitos impressionantes. Não morrer, não se machucar ou cura imediata são poderes fantásticos. Mas ser invisível. Ser invisível tem pouca utilidade prática para a maioria das atividades do dia a dia.

Tirando a possibilidade de ficar escondido vendo mulheres nuas e poder fugir ou revidar com facilidade quando em situações de um contra um, ou um contra poucos, ser invisível não traz vantagens significativas ao portador do poder, ainda mais se ele não puder voltar a ser visível quando precisar.

E esse é o caso de Griffin em “O Homem Invisível” de H.G. Wells. Um pesquisador que, obcecado por questões de física relacionadas à óptica, consegue arrumar uma forma de ficar invisível.

Através de um aparato e algumas substâncias, consegue fazer com que o índice de refração de seu corpo fique igual ao do ar, se tornando invisível.

Entretanto, sua invisibilidade é sem volta. Ou, pelo menos, sem volta encontrada por ele.

Sozinho, depois de ter “roubado” dinheiro de seu falecido pai, fica invisível e vê o mundo como conhece desmoronar.

Ser invisível para Griffin não é muito vantajoso. Ele pode ser caçado por cães, devido ao cheiro. Têm que permanecer nu, dos pés a cabeça, sofrendo as intempéries do ambiente, para fugir dos homens. E, além disso, não pode estar de bucho cheio, pois a comida aparece em seu interior até ser digerida.

Ser invisível, para Griffin, é um grande feito da ciência (mesmo que ficcional), mas só traz problemas.

Enredo

A história se passa no interior da Inglaterra. Começando na cidade de Iping, onde o homem invisível chega num dia frio e de neve, se hospedando na Coach and Horses, a hospedagem da Sra. Hall. Para se camuflar, está com a cabeça enfaixada, e usa um chapéu cobrindo o rosto.

Durante sua hospedagem, passa muito tempo fazendo pesquisas, na vã tentativa de voltar a ser visível. Ao mesmo tempo, só aumenta seu ódio, tanto pelas pessoas caipiras de Iping, quanto pelo seu estado e situação.

Em determinado momento, quando todos começam a suspeitar de Griffin, ele prega uma peça na comunidade, mostrando sua invisibilidade. O medo do desconhecido une os moradores contra o dito “homem invisível”, fazendo com que Griffin tenha que fugir.

Seu ódio é tremendo que se junta a um morador de rua chamado Marvel e o obriga a ajudá-lo a roubar seus pertences que ficaram na comunidade e a assustar os moradores.

Neste ínterim, começa a roubar moedas e dinheiros de diversas pessoas com seus poderes, como um larápio que surrupia de quem não o pode ver. Junto de sua passagem, a notícia da presença de um homem invisível, um fantasma, corre solta pelo sul da Inglaterra.

No fim, Marvel rouba tudo que Griffin ajuntou, assim como seus diários. Seu ódio pelo homem o leva a quase ser baleado. Então, consegue encontrar a casa de um antigo parceiro de faculdade, o Dr. Kemp, que se tornará seu fim trágico, pois ao demonstrar seu ódio pelo próximo e suas expectativas de trazer um “reino do ódio e do terror” à terra, faz com que Kemp tenha medo e o entregue aos oficiais.

Sua morte chega de maneira trágica, as pauladas e murros dos moradores e policiais, numa fuga insana pela cidade, após causar parte do terror que havia planejado.

Sobre o Livro e Algumas Ideias

O homem invisível é uma boa e curta história. Gostei do livro. Sua cadência é fluida, permitindo que eu lesse facilmente no ônibus e no metrô. É engraçado, o metrô é uma grande perca de tempo, mas se usarmos esse tempo para ir lendo esses romances, além do tempo passar mais rapidamente, conseguimos ir batendo nossas metas de leitura.

Comprei esse livro em capa dura da editora Zahar, da coleção de bolso de luxo dos clássicos de ficção científica. Comprei na Amazon em uma promoção que ocorreu no início do mês, se não me engano saiu por menos de 30 reais. Preço razoável para a atual situação dos livros, ainda mais em capa dura.

Livro O Homem Invisível de H.G Wells

Nunca gostei muito de livros de bolso, principalmente quando são livros grandes (tenho uma versão de O Conde de Monte Cristo que, pelo tamanho pequeno do livro e a grande quantidade de páginas, acabou ficando toda abaulada), entretanto, para livros pequenos como esse parecem funcionar muito bem, tanto pelo espaço pequeno que ocupam na bolsa/mochila, quanto pela portabilidade de estar com ele na mão durante o trajeto e não ser aquele tijolo pesado que alguns livros são.

O Homem invisível é uma história de ficção científica mais realista que o normal, apresentando problemas que alguém numa situação como essa poderia ter, como o fato da comida aparecer no interior do estômago até ser digerida.

Apesar da simplicidade ainda podemos tirar alguns ensinamentos:

  • O ódio e vingança não levam a lugar algum. Como dizia o Seu Madruga: “A vingança nunca é plena, mata a alma e envenena”.
  • Nem sempre ser diferente é a melhor solução para algo ou traz benefícios. Via de regra, ser diferente costuma trazer mais problemas que soluções. Mesmo que problemas bons, ainda assim são problemas que ficam consumindo seu ser.

Magicamente, ao final, após sua morte, o homem invisível fica visível novamente. Não creio que isso fosse possível, dado o que é contado no livro, mas traz um paralelo interessante a se pensar: Tudo que é ruim e se esconde, no fim, fica claro como o dia.

Abraços!!

 

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Blog do Neófito
1 ano atrás

Olá, Mago.
Tenho uns três ou quatro livros dessa coleção. Tb não sou fã do livro de bolso, mas esses ficaram até bacanas. Como vc falou, o problema é quando tentam pegar calhamaços e imprimir na versão bolso: fonte minúscula, entrelinhas mínimo, margens inexistentes. Não rola. Não tenha mais acuidade visual para isso.
Adoro este romance por sua crueza. E, sim: é um poder de merda. Fome por comer apenas comidas leves, pés ferrados por andar descalço, frio ou queimaduras de sol… Uma bosta. E loucura junto com tudo isso.
O Griffin de Alan Moore usa seu poder para estuprar moçoilas.
Abraços!

scant
scant
1 ano atrás

bela edição

 o metrô é uma grande perca de tempo, mas se usarmos esse tempo para ir lendo esses romances, além do tempo passar mais rapidamente, conseguimos ir batendo nossas metas de leitura.” – é uma boa maneira de “recuperar” esse tempo. acho isso uma boa rotina

Mas eu digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem,” – essa é a beleza do evangelho. seguir esse preceito pode evitar anos e rios de dinheiro gastos com terapias psicológicas

abs!

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