Lixo, tralhas e tranqueiras!!

No decorrer desta semana fiquei com um tempo livre entre o domingo e a segunda (vulgo madrugada com insônia). Não tendo nada para fazer, resolvi abrir algumas gavetas de um armário de cabeceira que tenho em casa e acabei descobrindo um maço gigantesco de folhas velhas. Era todo tipo de quinquilharia possível – aulas que jamais seriam revistas, notas fiscais de produtos velhos, segundas vias de pagamentos, metas traçadas alguns anos atrás e jamais revistas, etc.. -, resolvi então picá-las, abrindo espaço para novas coisas nessa gaveta.

Isso me fez pensar sobre lixo. Nós, como seres humanos, temos uma tendência muito grande a armazenar coisas, alguns são até chamados de acumuladores, devido a grande quantidade de tralha que guardam. (tenho um tio que guarda até cabos velhos e rasgados para tentar consertar e reutilizá-los, algum dia)

Acho que isso remonta a antiguidade, apesar de não poder afirmar com convicção. Antigamente, – naquilo que existia no a.c – era difícil achar carne em abundância. Então, com o tempo, começamos a desenvolver métodos de armazenar esse alimento fresco por mais tempo (salgar, guardar banhando em gordura, refrigerar, etc…). Após, percebemos que as frutas estragavam rápido demais também e começamos a congelá-las. Hoje, até os produtores agrícolas têm sistemas de armazenamento de alta tecnologia, podendo guardar produções agrícolas durante meses, intactas, podendo soltar no mercado na melhor hora possível para ter os melhores lucros.

Enfim, nosso negócio é guardar, armazenar e tentar organizar. Não me espanta que isso escorra para o dia a dia das pessoas, no âmbito de coisas mais simples, como em folhas de papel.

Resolvi dar uma olhada nos meus armários e, para minha surpresa, tenho tralha demais armazenada.

Além daquelas folhas que rasguei, tenho vários presentes recebidos no decorrer dos anos que nunca usei (tralha para deixar em prateleiras, lembrancinhas de alguns países, etc), coisas quebradas que algum dia pensei que consertaria, caixas de eletrônicos (caso os venda, algum dia), eletrônicos quebrados que não joguei fora, material de aulas antigas (caso algum dia sinta vontade de ler arquivos das aulas de mecânica dos fluidos ou de números complexos, vai saber), entre outros….

A quantidade de tralha que o ser humano armazena é absurda. Eu não me considero um acumulador compulsivo, ainda assim tenho muita tralha em casa. Coisas das quais eu poderia me desfazer sem prejuízo emocional ou financeiro, liberar espaço, me organizar melhor. Entretanto, esperanças vãs, esperanças reptilianas, me fazem acreditar que talvez seja prudente guardar isso aí para uma possível emergência.

Como é de se esperar, essa emergência nunca chega.

Alguns anos atrás flertei com o minimalismo nesse ponto. Acredito que tudo que é levado ao extremo não seja saudável. O minimalismo foi assim. Alguns o levaram longe demais, fazendo acreditar que viver com quase nada era uma virtude. Mas a visão sobre as coisas da teoria do minimalismo é de se pensar. Quanto é suficiente? Preciso mesmo de 12 camisas para trabalhar? Preciso mesmo de 10 pares de tênis? 6 calças?? 2 carros?? Preciso mesmo de guardar essa tralha que nunca é revista?

O minimalismo extremo: Só pode ter duas cadeiras e uma mesa, utensílios plásticos e nem pense em comprar qualquer coisa que não seja básica.

Eu desconto disso coisas colecionáveis e coisas para melhorar a qualidade de vida. Se você coleciona livros, cds, moedas, gibis, etc… Pouco importa quanto você têm disso, pois é um hobby. Se você têm vários gadgets que fazem a sua vida mais fácil, continue usando. O que me deixa pensativo são as outras coisas, as que armazenamos sem usar. Creio que seja uma reflexão interessante de ser feita. Olhar para aquilo que temos guardado no armário e refletir: “preciso mesmo disso?? Faz quanto tempo que não uso essa calça? Quanto tempo não calço esse par de sapatos?? Preciso mesmo de um terno vermelho que só usei uma vez??”

-Olha Felipe, vim no estilo da Ferrari pra te ver. Acha que dá pra usar mais uma vez essa parada aqui?? numa festa, sei lá??

Algum tempo atrás, eu tinha 8 camisas para trabalhar. Percebi que, com o passar do tempo, começava a gostar mais de uma que de outra, usando a que gostava mais vezes na mesma semana, caso estivesse lavada. Após alguns meses, só usava 5 das 8 e tinha 3 paradas. Lembro de pensar se não seria mais prudente ter somente 6 (uma servindo como redundância para a emergência que nunca chega). Isso, via de regra, acontece com calças, meias, cuecas, tênis. Sempre tenho mais do que preciso e sempre tenho coisas paradas.

Resolvi que, neste ano, tentaria ser mais consciente em relação ao “suficiente”. Não para ser sovina e não gastar dinheiro algum, mas para dar valor ao que tenho e uso frequentemente, e para poder dar a oportunidade a outras pessoas, principalmente aquelas que não têm condições como as minhas, de dar uso as coisas que tenho e não me servem mais.

Comecei esse processo vendendo os livros didáticos que tinha por um preço acessível. Foi um sucesso. Levantei uma graninha e ainda entreguei os livros para alguns universitários que aparentemente precisavam dos livros. As calças, camisetas, tênis e sapatos que guardava (para o dia em que perdesse uns 4 quilos de banha, ficasse trincado e meu pé magicamente gostasse de calçar o maledito) doei para uma instituição de pessoas carentes. Vendi vários livros que comprei e não gostei, e aqueles que não são vendáveis, doei. Também vendi uma bicicleta que estava parada a quase 3 anos, devido a falta de uso (sempre achei que usar bicicleta em cidade grande é um saco, é perigoso e ainda te faz chegar sempre suado, mas alguns gostam, vai entender), para um porteiro do prédio, que estava querendo uma bike para ir e vir de casa.

Próximo passo será a venda de uma guitarra e amplificador que ainda estou tomando coragem para vender (já não toco faz mais de 5 anos e a guitarra só serve de apoio para o gato subir na janela), pois vender coisas velhas parece muito difícil, até elas sumirem de vista.

Outro ponto que estou me policiando é em relação a papel. Só guardar o que importa, e tentar fazer isso em cadernos. Folhas costumam ficar jogadas e são de difícil armazenamento, pois se perdem mais facilmente.

Bem, por hoje é só. Não acho que esse post sirva para muita coisa além de lembrete, mas postei, pois outros podem ter o mesmo problema e ver como venho levando a situação.

Vocês também têm problemas de acumulação?? Costumam fazer algo em relação a isso?

Abraços e até a próxima.

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A Marreta do Azarão
A Marreta do Azarão
2 anos atrás

Cara, eu me considero um sujeito dos mais frugais no quesito consumismo e acumulação. Por exemplo, tenho dois pares de tênis, um pra “bater” e outro pra “sair”, três calças jeans usáveis (e uma quarta escondida para que a esposa não jogue fora) e uma meia dúzia de camisetas e camisas polos; as mais novinhas com sete, oito anos.
Ainda assim, mudei-me recentemente e me assustei com o tanto de coisas que eu tinha acumulado. Foram sacos e mais sacos daqueles pretos de guardar cádaver de quinquilharias, papéis e livros.
Eu já acho que essa nova tendência a acumular vem um pouco do fato de acharmos que há um além-vida (mesmo eu que não acredito nisso), que iremos, feito os faraós do antigo Egito, reviver em outro plano e continuar a utilizar nossos bens terrenos.
Muito bom o seu texto.

A Marreta do Azarão
A Marreta do Azarão
2 anos atrás

onde escrevi “nova tendência”, leia-se nossa tendência.

Neófito
2 anos atrás

Olá, Mago.

Seu relato é interessante num ponto: você tinha muito lixo. Tralha inútil, mesmo: aulas que nunca seriam vistas, notas fiscais, lembrancinhas sem uso (algumas ficam bem numa prateleira) etc. Este tipo de lixo não tem espaço em minha casa. Tenho muita “tralha”. Mas tralha boa: objetos que servem para decoração e afagam a memória afetiva, quadros (muitos e muitos), artesanato, bonecos colecionáveis, livros, gibis etc.

O minimalismo extremo me parece, às vezes, o extremo do acumulador e não parece saudável. Uma casa pede objetos, pede beleza à sua volta. Tenho muitos móveis. Todos são úteis. Alguns, aliás, considero obras de arte, pois foram feitos à mão.

Acho que tudo se encaixa nisso: “Eu desconto disso coisas colecionáveis e coisas para melhorar a qualidade de vida”.

Sobre roupas, evitarei comprar por um bom tempo. Tenho muita coisa ainda na etiqueta, mas compradas devidos a promoções. E porque minha esposa me deu uma “pressão” para eu ter mais roupas. Realmente, eu estava andando apenas com duas calças e poucas camisetas há alguns anos… Já fui quase um indigente em termos de roupas, sem exagero. As atuais serão utilizadas com o passar dos anos, em resumo.

Sobre livros científicos, doei-os há anos e anos. Sabia que nunca mais seriam relidos. Aliás, ficam desatualizados logo. Tb doei muita roupa em bom estado, gibis e alguns livros. Onde moro, não vale a pena vender. Não acharei comprador. E ML, Estante Virtual e sites similares acabam sendo complicados para mim: Correios etc.

Minha esposa tem um sistema bom: bazares de mulheres, virtuais. Elas vendem muitas roupas femininas e infantis por lá. E trocam acessórios. Seria legal doar roupas de minha filha. Mas pesa no bolso. As roupas e calçados são bons. Custam caro. E ela usa pouco, pois está com apenas seis anos e crescendo. Às vezes, ela vende três sandálias e compra uma nova. E também já compramos, das amigas delas, roupas de meninas. Então está dando certo.

Sobre “Não acho que esse post sirva para muita coisa” serve, sim. Não sou minimalista, nem pretendo sê-lo. Mas pensar sobre o assunto nos ajuda a não acumular tanto. Isso não é mesmo saudável.

Há uns anos, escrevi algo curto a respeito: https://www.xn—blogdonefito-7hb.com/2017/05/minimalismo-de-boutique.html.

Hoje, é moda falar em consumo. Mas também rola muita hipocrisia. Estes dias, vi este vídeo sobre o assunto: https://www.youtube.com/watch?v=aOR-u6VH_UI

Abraços!!!

Neófito
2 anos atrás
Reply to  Matheus

O limão não agride se a pele estiver intacta. Vi relatos de irritações sérias porque o cidadão raspou os pelos e tacou, na mesma hora, limão com bicarbonato.
Com um gato vc tem isso, imagina aqui, com seis.
Eu me livraria de todos meus livros. Mas não vou dá-los a troco de mixaria. Então os deixo onde estão. Penso em me mudar mais à frente, para outra cidade. Então será uma baita mudança. Dará trabalho e custo. Mas levarei a tralha toda, mesmo. Tô sempre relendo ou folheando algo…
Acumular, até coisas boas, não é legal mesmo. Se eu voltasse no tempo, não teria comprado tanto. Se bem que a leitura eletrônica é algo “novo” em minha vida.
Sobre móveis, é bom fazer tudo por encomenda e embutido. Então lhe trará conforto e, mais à frente, serão vendidos como integrantes do imóvel.
Abraços!

Neófito
2 anos atrás

Homem chique e elegante este jogador…
De qualquer forma, feliz ele deve ser.

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