Criptomoedas: Bitcoin, estudo da moeda digital

Este é um post um pouco mais longo e, diferente dos outros, mais chatinho de ser lido. Fique livre para pular caso não tenha interesse no assunto. Esses serão textos pontuais de coisas que venho lendo sobre e estudando. Continuarei a escrever outros textos mais leves entre esses mais densos.

Disclaimer

Este post (ou sequência de posts) é um estudo, uma tentativa de entender melhor o universo das criptomoedas. Hoje, temos uma infindável quantidade de informações sobre criptos sendo jogadas em nossas caras, principalmente pela mídia televisiva, a maioria das vezes relacionada ao preço e rendimentos exorbitantes que atingiram essas moedas. Isso faz com que muitas pessoas, que nunca fizeram investimentos em cripto, acreditem que ficarão milionárias da noite para o dia, não entendendo os motivos de sua existência e riscos que essas moedas trazem e colocando em risco suas economias.

Mas antes, vou fazer um disclaimer, caso num futuro próximo alguém venha alegar que eu mandei ou indiquei a alguém a compra de alguma criptomoeda.

Não sou investidor profissional, tampouco analista de investimento. Também não estou a dar dicas ou palpites de qualquer tipo. O que você vai encontrar neste artigo (ou série de artigos, caso eu venha a escrever mais sobre o assunto) são fatos que vou ir tirando de livros e outros artigos na internet acerca da história, objetivos, como funciona e o que é uma criptomoeda.

Focarei, principalmente no Bitcoin (BTC) e no Ethereum (ETH), que são as moedas mais difundidas e com maior volume de negociações diárias na data em que escrevo.

Também não sou economista, portanto tentarei me balizar em sites e autores para explicar algumas coisas relacionadas a moedas e teorias econômicas das quais eu venha a comentar, tentando explicar o mais resumidamente e o mais facilmente possível (até para meu próprio entendimento, já que não sou conhecedor da área).

Por último, não sou oráculo (mas gostaria de ser!! hahaha). Não faço a mínima ideia do que vai acontecer amanhã, mês que vêm ou no ano que vêm. Assim, não sei qual a próxima criptomoeda que explodirá, ou se o Bitcoin chegará a 1 zilhão de reais. Isso só o tempo dirá.

Tendo dito isso, qualquer compra de criptomoedas que você (você mesmo que está lendo) venha a fazer é de total responsabilidade sua.

Espero que você, leitor, aprenda algo com esses textos, assim como eu estou aprendendo.


Se situando no tempo (um pouco de história e contexto)

A sede do nosso grande Bacen!!!

Num passado não tão distante do presente em que vivemos, os cartões de crédito e débito surgiram e, com o tempo, praticamente aboliram o dinheiro de papel de nossas carteiras. Os meios de pagamentos passaram, em grande parte, do meio físico, da troca de notas e moedas, para o digital, transações bancárias a partir de comandos enviados por computadores e celulares via internet.

Hoje, temos a comodidade de não necessitar carregar grandes quantias em espécie ou mesmo talões de cheques, podendo, ao sacar o celular, realizar transferências para qualquer lugar. No presente momento, até os mais leigos sobre o assunto podem sacar seu cartão de crédito (ou seu celular mesmo) e realizar compras em até “12 vezes sem juros” em qualquer loja de esquina de sua cidade.

Entretanto, dinheiro virtual de banco também é dinheiro rastreável. Quando você paga uma coxinha com dinheiro só você e o vendedor sabem que esse dinheiro saiu de sua mão e foi parar no caixa da loja. Ao pagar com cartão, o banco e o governo ficam imediatamente cientes que você acabou de comprar uma coxinha. Na maioria das vezes, fazer uma transação com intermediação de um banco tira todo o anonimato de sua compra. (E deixa mais fácil pra cobrarem algumas taxas e impostos depois!!!)

Além disso, fazer transações com bancos é (de certa forma) algo custoso. Existem taxas de manutenção de contas e taxas para fazer transações de TED ou DOC. Sua conta pode ser confiscada ou congelada a qualquer momento, se o banco for notificado por alguma autoridade que acha que você é perigoso (ou por qualquer outro motivo que ele possa alegar!!). O banco pode se negar a lhe fornecer um cartão, a abrir sua conta corrente ou mesmo a manter você como seu cliente, enxotando você quando bem entender. (as vezes, é melhor fazer igual os chineses do Brás mesmo, guardar no cofre em casa)


Algumas explicações……..

Deixo claro que sei que bancos digitais não cobram taxas de manutenção de conta. Entretanto, bancos digitais são uma regalia que só existe para quem tem mínima intimidade com tecnologia (obviamente o Bitcoin, hoje, também o é, talvez até menos acessível, principalmente devido ao medo das pessoas. Mas, num futuro próximo, essa tecnologia poderá deixar de ser um impeditivo e facilitar a vida daqueles que precisam de baixos custos e/ou precisem de moeda “viável e segura” desvinculada de bancos em momentos de crise, vide a galera na Nigéria).

Além disso, a maioria das pessoas “informadas” ainda se sentem mais seguras sob a redoma de um banco de grande porte, “com nome”, com gerente, para deixar suas parcas economias. Muita gente que conheço que têm contas em bancos digitais as usam quase que como um anexo de sua conta de “banco grande”, transacionando parte do montante para a conta digital com a transferência grátis, que muitos bancos fornecem em seus pacotes, e pulverizando com a digital para as diversas transferências que precisem ser feitas no decorrer do mês. Obviamente, você pode até conseguir zerar as taxas se for bom de conversa, mas, geralmente, isso têm um custo, como deixar uma custódia grande no banco ou ser muito amigo do gerente (algo que sai da esfera de compra e venda de serviços, entrando no “jeitinho” brasileiro de querer sempre apadrinhamento).

O Pix, nesta presente data, permite realizar pagamentos imediatos sem custo algum. Mas já existe promessa de taxações para pessoas jurídicas, que devem ser definidas pelos bancos, além disso, o ministro Paulo Guedes já deu a entender que, num futuro próximo (quando você tiver se acostumado a usar essa bagaça) pode haver uma cobrança de imposto para a utilização desta “rodovia”.


Fazer compras internacionais também é um grande problema. Cartões e contas internacionais, geralmente, têm anuidade mais cara. Além disso, existe o problema do câmbio, constantemente alterado devido aos humores do mercado, e altas taxas de IOF, cobradas pelo “amigo do povo”, o governo federal.

Também, com um sistema financeiro centralizado, com uma instituição (a.k.a Banco Central) controlando toda a produção de moeda e podendo gerar efeitos inflacionários apertando o botão de imprimir a qualquer momento, ficamos reféns de instituições centrais em praticamente todos os aspectos de nossas vidas.


Breve pausa para saber o tanto de dinheiro circulando por aí

A título de curiosidade, verifiquei a diferença em papel moeda existente durante o início e o presente momento da pandemia do coronavírus. (você também pode conferir acessando este site aqui)

Em Fevereiro de 2020, existiam R$ 266.263.663.678,89 em moeda circulante. Hoje, em Abril de 2021, este valor foi para R$ 343.527.697.002,38.

Isso representa um aumento de pouco mais de 77 trilhões de reais em um ano. A máquina deve estar a todo vapor.

Imprimindo algumas doletas!!!

Além disso, se todas suas posses estiverem em moedas governamentais, você se torna sempre refém da arbitrariedade de decisões tomadas pelos Bancos Centrais e pelas decisões dos bancos, um grupo(cartel) regulado com garantia de proteção contra falência.

Esses últimos, diga-se de passagem, também podem ser agentes de criação de dinheiro, mas dinheiro virtual. Através do mecanismo de reservas fracionárias, podem fazer empréstimos e investimentos alavancados em valores muito maiores que os depositados em seus cofres, desde que mantenham uma fração desse valor em depósito (ou em suas contas no Banco Central). Fazem isso na assunção de que em nenhum momento todos os negociantes solicitariam saques ao mesmo tempo, algo que quebraria os bancos de uma única vez. No Brasil, esse valor é o depósito compulsório, porcentagens que todas as instituições financeiras devem depositar aos cuidados do nosso grande BACEN.


Entendendo melhor as reservas fracionárias

É isso mesmo, seu banco pega a grana que você acabou de depositar e empresta pro próximo da fila. Seu dinheiro já é só um monte de “bites” em um computador. Mesmo assim, acredito que grande parte do público atendido pelos bancos acredita piamente que todo o dinheiro colocado em depósito está em um cofre nos fundos da agencia.

Vamos ver como funciona o sistema de reservas fracionárias:

Segundo o site do BACEN, depósitos a vista têm um compulsório de 21%. Então esse dinheiro pode ser multiplicado 1/0,21 vezes (4,76 vezes, aproximadamente).

Vamos supor que eu crie o banco Mago e que Aninha deposite em sua conta corrente um valor de 10.000 reais.

Assim, pego 21% disso (2.100) e deposito no compulsório. O resto (8.900) posso emprestar.

João precisa de um empréstimo, então coloco na mão dele os 8.900, que ele prontamente depositará em outro banco.

Esse outro banco fará compulsório de 21% desse valor (1.869). E emprestará o restante para outra pessoa (7.031).

Isso continuará até que a soma dos valores circulantes no mercado se aproxime de 4,76 vezes o inicial (47.600), ou fique tão pequeno o empréstimo que não compense ao banco fazê-lo.

Percebe-se que com 10k criei, nesse exemplo hipotético, aproximadamente 25k (10k+8,9k+7,031k), quando na verdade só existem 10 mil reais depositados em espécie no Banco Mago. Assim, se por ventura esse fosse o único dinheiro disponível para os bancos em questão, caso os três indivíduos quisessem sacar 5k ao mesmo tempo o banco não teria esse dinheiro disponível e ficaria insolvente.


Em 2008, na crise do subprime, quando grandes instituições financeiras, como Lehman Brothers, vieram a falência, tentando evitar um colapso do sistema financeiro, o governo americano injetou a merreca de 700 Bi de dólares do dinheiro do contribuinte em um pacote de salvação aos bancos e algumas outras empresas (o maior pacote de intervenção americano da história, onde, basicamente, comprou os ativos lixos dos bancos e injetou dinheiro artificialmente).

Enquanto isso, o desemprego disparou, chegando a 10% de toda a população americana em Outubro de 2009, o valor das casas de nossos colegas foi ao chão e suas contas de aposentadoria viraram pó.

[Experimente pedir um pacote de salvação para o Governo para ver se você ganha uma merreca para alimentar sua família. Ou então, um pacote de estímulos para sua microempresa ir para frente. Então, veja o poder dos lobistas e pessoas influentes rindo na sua cara.]

Bitcoin, a Moeda Virtual

Logo da moeda Bitcoin

O Bitcoin surgiu no meio desse imbróglio. No meio da crise de 2008 (31 de Outubro de 2008, para ser mais preciso), Satoshi Nakamoto (suposto criador anônimo da moeda) lançou o White Paper do Bitcoin (Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System) explicando como funcionava a moeda.

Porém, o primeiro bloco e a primeira transação da moeda só viriam a ser registradas no blockchain em 3 de Janeiro de 2009. O chamado bloco gênese foi minerado por Nakamoto e trouxe junto, como comentário, o seguinte texto: ”The Times 03/Jan/2009 Chancellor on brink of second bailout for banks”, em clara alegoria a manchete do jornal Times daquele dia, referente aos empréstimos para salvação dos pobres bancos.

Manchete do Times daquele fatídico dia.

Entretanto, somente em 2010 ocorreu a primeira troca comercial usando Bitcoins. Na compra daquela que viria a ser a pizza mais cara da história, o programador Laszlo Hanyecz pagou aproximadamente 10.000 moedas em duas pizzas Pappa John. (Experimente procurar a cotação e ver quão cara foi essa pizza !!!!)

Atualmente, o Bitcoin se tornou (talvez) a única moeda que vingou das criptos, pelo menos a única que é bastante aceita por aí e a com maior volume de negociações (aproximadamente 50% do mercado de criptos é dominado pelo Bitcoin, na data em que escrevo). Custando, em seu máximo histórico, aproximadamente 64 mil dólares, é aceito em diversas empresas onlines como forma de pagamento (apesar de ainda sofrer para engrenar nos mercados menores. Muitos lugares ainda têm medo do Pix e de cartões de crédito, acredito que isso de criptomoedas nem passe pela cabeça de muitos e seja algo para um futuro extremamente distante). Alguns exemplos são Microsoft, Tesla (pelo menos disseram que aceitariam) e diversas outras companhias através de aplicativos que permitem o uso dos Bitcoins em sua Wallet.

Mas o que esse Bitcoin têm de bom??

No próximo texto, dissecarei um pouco sobre os prós e contras (pelo menos os contras que mais dizem por aí) envolvendo o Bitcoin. Após, escreverei um pouco sobre as tecnologias envolvidas, sobre o White paper de Nakamoto e as diferenças entre prova de trabalho (PoW) x prova de participação (PoS), algo importante na atualidade, onde existem moedas com outras formas de geração de novas moedas, tal como Ada Cardano e o Ethereum (em um futuro próximo).

Obrigado por ler até aqui e até a próxima.


Fontes para consulta

Livro: Bitcoin – A moeda na Era Digital (Fernando Ulrich)

Sobre reservas fracionárias e depósito compulsório:

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Sobre Intervenção estatal para salvar bancos:

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Sobre Bitcoin:

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Neófito
3 anos atrás

Olá, Matheus.

Me interesso pelo assunto, até demais para alguém que não tem nenhuma cripto. Me interesso pelos aspectos geopolíticos e tecnológicos.

Você se focou nas principais moedas do momento. Foco mais na Ethereum devido à tecnologia de contratos seguros.

A advertência foi válida. Todos os gurus financeiros do YT deveriam fazê-la. Mas eles estão ali para isso: ganhar grana não com seus próprios investimentos, mas sim com anúncios da própria plataforma (monetização) e produtos vendidos, muitas vezes de forma não explícita, como se fossem meras recomendações técnicas.

Não tenho problema com passar tudo no cartão pois não tenho patrimônio a esconder. Só vivo de meus vencimentos. E servidor público não foge do Fisco. Até gosto do cartão porque troco pontos por cashback ou outra coisa qualquer. Se não há desconto à vista, pago no crédito, mesmo. E no débito tenho pontos junto ao banco. Nem me cobram o pacote de serviços!

Fiz uma conta digital e quase não a uso. Mas reconheço que o Banco físico traz algumas comodidades. Isso dependendo de sua “renda”, claro, e como será atendido na agência, via Whats, telefone ou outro meio.

Vi essa notícia do Pix e acho que está até demorando. Achei uma ferramenta ótima. Tô pagando tudo que é serviço de profissional manual com Pix (pedreiro, eletricista, marceneiro etc.). Antes, precisava de grana em mão ou fazer TED e DOC. “Ah mas o governo…” Este já me fode mesmo e não tenho como fugir. Então preciso de uma comodidade ao menos no meu dia a dia. E o Pix veio para isso.

Meus dois cartões internacionais não têm anuidade e um deles possui um baita limite (o qual torço para nunca precisar utilizar, claro). Mas tá aí para segurança.

Desde que a grana se torou bites, o problema inflacionário ficou escancarado. Antes, a geração de moeda sem lastro precisava ao menos de impressões e logística. Hoje, basta um comando eletrônico.

Nunca nos recuperamos da crise do subprime. Tudo foi maquiado com grana fiat. Com a Covid 19, precipitaremos esse crash inevitável. 40% dos dólares circulantes foram criados no ano anterior. A bomba vem aí. Mas por enquanto está todo mundo feliz com as altas nas bolsas. Ora, vejamos seu exemplo para o Brasil: 77 trilhões de reais precisaram ir para algum lugar. E boa parte foi para investimentos fadados à bolha.

Para mim, Bitcoin NÃO é moeda. É um ótimo ativo financeiro para quem soube entrar na hora certa e, melhor, para quem pular do barco na hora mais certa ainda. Algo tão volátil não se presta à moeda. É como no caso da pizza!

A China anda recomendando Bitcoin. Mas está comprando ouro. E talvez provocando o fechamento de mineradoras. Junto a isso, governos querem regras mais duras junto a corretores e até entre o p2p. Em breve, passarão a exigir chaves nas declarações de IR. Sim, o “número” de sua carteira na prestação de contas. Algumas corretoras, aliás, estão enviando relatórios à Fazenda, após notificações extrajudiciais e inquéritos policiais diversos.

Bitcoin enfrentará problemas, agora. Está bastante em evidência. E, quanto à Ethereum, ela possui rosto e sede física. Nada impede um ataque surpresa dos bancos centrais.

No aguardo da sequência. O tema é interessante.

Abraços!

Neófito
3 anos atrás
Reply to  Matheus

“nada impede de você enviar para uma carteira que seja um nó de Bitcoin, sem vínculo nenhum com você.”

Não sabia disso.

Num futuro próximo, apelarão para a força mesmo. É assim que o Estado funciona.

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[…] no último post falei um pouco sobre a atual situação em que vivemos (avanço desenfreado da tecnologia, […]

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