Ithaka-by C.P. Cavafy
As you set out for Ithaka hope your road is a long one, full of adventure, full of discovery. Laistrygonians, Cyclops, angry Poseidon—don’t be afraid of them: you’ll never find things like that on your way as long as you keep your thoughts raised high, as long as a rare excitement stirs your spirit and your body. Laistrygonians, Cyclops, wild Poseidon—you won’t encounter them unless you bring them along inside your soul, unless your soul sets them up in front of you. Hope your road is a long one. May there be many summer mornings when, with what pleasure, what joy, you enter harbors you’re seeing for the first time; may you stop at Phoenician trading stations to buy fine things, mother of pearl and coral, amber and ebony, sensual perfume of every kind— as many sensual perfumes as you can; and may you visit many Egyptian cities to learn and go on learning from their scholars. Keep Ithaka always in your mind. Arriving there is what you’re destined for. But don’t hurry the journey at all. Better if it lasts for years, so you’re old by the time you reach the island, wealthy with all you’ve gained on the way, not expecting Ithaka to make you rich. Ithaka gave you the marvelous journey. Without her you wouldn't have set out. She has nothing left to give you now. And if you find her poor, Ithaka won’t have fooled you. Wise as you will have become, so full of experience, you’ll have understood by then what these Ithakas mean.
Tenho um certo apreço por conhecer um pouco da vida dos escritores que leio. Não por interesses bibliográficos, mas para ver que suas vidas são próximas da minha, de alguma maneira.
Tendemos a colocar muito brilho em certos homens, por diversos motivos (conhecimento, dinheiro, irracionalidade, bizarrice, etc.), deixando de observar que suas vidas foram (ou são) tão iguais as nossas: em busca de um sentido, de um motivo, de uma razão, da verdade.
C.P. Cavafy foi um poeta grego que nasceu em Alexandria, no Egito, onde moravam seus pais. Viveu grande parte da mocidade na Inglaterra, onde aprendeu a língua inglesa. Trabalhou como correspondente de jornal, como assistente de seu irmão na bolsa de valores do Egito e, durante quase 30 anos, trabalhou no ministério de obras públicas do Egito.
Morreu de câncer em 1933. E sua fama, assim como a de muitos artistas, só veio depois de sua morte. Sua poesia praticamente não foi publicada em vida, tendo sido, majoritariamente, circulada somente entre amigos.
Cavafy era um homem qualquer, desses que encontramos de terno nos centros de São Paulo, escrevendo poesias em seu quarto durante os horários livres. Mas, dentro de si, ele, provavelmente, também carregava um desejo por aventura, um desejo para que sua vida tivesse emoção, sentido, algo além de olhar para a tela de um computador (hoje em dia) ou de papelada em uma mesa (em sua época).
Provavelmente, queria que sua vida fosse como a aventura de Ulisses, em seu retorno a sua terra natal, Itaca. Mas nossas vidas não são tão emocionantes e, vira e mexe, ficamos estagnados, pois nossos sonhos mais altos nunca são completados.
Ainda assim, podemos dar sentido, e aventura, as nossas vidas nos atentando aos pequenos detalhes: a um sorriso, a um raio de sol brilhante numa tarde de domingo, ao canto dos passarinhos, ou ao esverdear dos campos, aos recordes pessoais vencidos, ao perfume de rosas e das vitrines de lojas, as conversas perdidas, aos amores vividos, e aqueles que jamais foram exprimidos, aos amigos, enfim, a sua jornada, do início ao fim.
No fim, a vida é só isso, os pequenos detalhes da jornada que ficam em nossas memórias e que morrem conosco. Pois a estória é um início e um fim entremeado de detalhes. Poucos serão lembrados pelos seus trabalhos formais, de terno e gravata, pelos quais tanto nos preocupamos, mas ficarão na memória de alguns, lembrados por aquela cerveja despretensiosa tomada num domingo qualquer, rindo ao som de uma canção ritmada.
Viver a vida é se atentar aos detalhes da jornada, é ter coragem de aproveitá-la e, no fim, reconhecer que, apesar de tudo, valeu a pena.
Abraços!!
PS: Estou estudando nas horas vagas sobre as criptos e espero trazer algum artigo novo para a série até semana que vêm.
Olá, Mago!
Desconhecia totalmente este autor, até hoje.
Me lembrei de Drummond: um pacato burocrata, vivendo sua vidinha besta e escrevendo algumas pérolas ao final do dia.
Meu inglês não é bom para textos sofisticados. Preciso recorrer ao tradutor.
Sobre: “Tendemos a colocar muito brilho em certos homens, por diversos motivos”. Pois é. Eu, por exemplo, precisei aprender com o tempo a dissociar obra de autor. Conheço toda a discografia de Caetano Veloso e adoro, por exemplo. Mas é um ser humano com o qual eu não gostaria de permanecer um minuto num mesmo ambiente. E certamente ele não estaria nem aí para isso. Rs
Alguns autores conciliaram vidas de grandes realizações literárias com aventuras para poucos. Hemingway foi um deles, por exemplo. E ainda hoje acredito que ele tenha sido espião (a serviço de mais de um lado, pela pura diversão). No campo das artes gráficas, gosto bastante de Saul Steinberg, e também acredito piamente, analisando sua trajetória, que atuou no submundo da inteligência americana. Não sei como ainda não levantaram essa hipótese por aí.
Um autor que me marcou bastante por sua escolha de vida foi Rimbaud, que, bem cedo, deixou de escrever (ou apenas escondeu bem o que escrevia) e viajou pelo mundo inóspito, caçando, traficando armas e arranjando encrencas. Não à toa, teve uma morte miserável. Mas pessoas boas e honestas também encontram mortes igualmente miseráveis, enfim. Rimbaud faleceu devorado pelo câncer, igual a Cavafy.
No final das contas, endosso o que você conclui: as pequenas aventuras do dia a dia já bastam. Ao menos, para mim, sim. Neste fim de noite, por exemplo, fui a uma grande farmácia (essas de rede) no centro da cidade, comprar alguns remédios e chocolates com minha filha. Foi uma ótima aventura!
Abraços e sucesso no post sobre criptos, ainda mais agora que estão sob a mira intensiva dos Estados!
Olá, Neófito.
Cavafy não é muito conhecido mesmo. Lembro que li esse poema em um site de HQs feito por um neozelandês que adaptava poemas e frases para Comics. Acabei lendo outras poesias dele, mas a que mais me lembro é essa, Ithaka.
“Meu inglês não é bom para textos sofisticados” Felizmente, o tradutor dá conta desse texto bem =D. Como ele já é uma tradução do grego, os americanos fizeram uma tradução mais fácil de entender. Alguns textos são muito difíceis mesmo, tipo os do Poe, esses nem o tradutor da conta. De qualquer forma, vou tentar traduzir na próxima que postar algo em outra língua, serve como exercício e ajuda um pouco nesses casos.
Caetano é meio nojento como pessoa, mas também gosto de suas músicas. Quanto a Hemingway, esse realmente viveu, mas também teve seus altos e baixos, como todos nós. Rimbaud, li uma vez sobre essa vida maluca que ele levava, viveu loucamente, mas morreu cedo, não muito diferente desses artistas de rock que morreram aos 27, intenso e rápido.
Lembro que falavam muito sobre Tolken, que havia escrito o Senhor dos Anéis, com grandes aventuras, mas jamais havia saído do seu próprio condado, na Inglaterra, onde ensinava. Podemos criar nossas próprias grandes aventuras nos pequenos detalhes do dia a dia. No fim, aventuras são memórias contadas com enredo.
Quanto as criptos, vamos ver no que vai dar essa história toda….
Abraços.
“Alguns textos são muito difíceis mesmo, tipo os do Poe”
E é curioso quando falamos de tradução de poesia, até mesmo para tradutores “não robóticos”. Exemplo: gosto mais da tradução de Pessoa para O Corvo do que da de Machado de Assis. Mas a de Machado é mais fiel ao texto original…
O pouco que li de Poe foi em inglês, então não conheço muito das traduções disponíveis. Achei interessante saber dessa diferença nas traduções do brasileiro e do português. Vou dar uma olhada, assim que possível.