Neste post falarei sobre as canetas e papéis que utilizo para escrever no meu dia-a-dia, além de alguns artigos para armazenamento dos materiais.
Este post é uma continuação. Caso tenha caído de paraquedas por aqui e queira ler o primeiro, onde falo das lapiseiras que utilizo, clique aqui.
Até entrar na faculdade sempre havia uma constante reclamação de que minha letra cursiva era ruim. Os professores sempre reclamavam que era difícil entender partes do que estava escrito. Por este motivo, abandonei totalmente a escrita cursiva e passei a utilizar somente letra de forma.
Durante o início da faculdade, diferentemente de meus colegas de classe, não tive problemas com as disciplinas dos 1º e 2º ano (como havia feito cursinho preparatório, já havia visto a grande maioria das disciplinas dos primeiros semestres). Desta forma, enquanto meus colegas se matavam de estudar para passar em cálculo, eu ficava lendo coisas completamente aleatórias, sem correlação alguma com as disciplinas e continuava com boas notas (muito provavelmente, alguns queriam me degolar, mas acontece).
Surgiu, então, uma ideia meio desvairada de voltar a escrever com letra cursiva. Então, fiz a famosa pergunta ao oráculo Google: “Como escrever melhor com letra cursiva?” e recebi todo tipo de dica que não servia para nada (conheça as letras do alfabeto, escreva as letras na ordem, escreva frases, escreva textos,…. – coisas que já sabemos se já frequentamos a escolinha), ninguém falava sobre os movimentos ou sobre a angulação, sobre apoio do braço, coisas que precisamos saber e praticar para escrever melhor.
Daí, fiz o que faço quando a resposta do Google é ruim, procurei livros sobre o assunto. Escrever um livro é uma tarefa árdua, difícil. Então, se o livro existe, deve ter havido algum tipo de empenho para ser escrito, com mais detalhamentos, diferente de alguns desses artigos da primeira página do buscador, que só estão ali por ter SEO, alguns sendo muito parecidos com outros.
Lembro que achei um manual de letra cursiva com vários exercícios e explicações, todo escrito em espanhol. Fiz vários desses exercícios, até achar que minha letra estava razoável e ter adquirido a destreza do punho para realizar os movimentos da escrita (pena ter perdido esse manual em formatações do PC, tentei procurar na internet, mas não achei).
Isso durou cerca de dois meses, depois parei, me sentindo satisfeito com o resultados obtidos.
As Canetas Tinteiro
Quem praticou ou leu algo sobre caligrafia, invariavelmente chega a alguma caneta ou pincel com pena. Via de regra, caligrafia profissional é feita com pena embebida em tinta. Grandes documentos e contratos também são firmados com tinta (usualmente de tinteiros bem caras).
A tinta, diferente do grafite, não sai, atestando a firmeza do que está sendo acordado. É algo sem volta, que carrega um simbolismo de grande importância.
Um jovem sonhando com grandes feitos e lendo sobre caligrafia seria, cedo ou tarde, levado a alguma caneta tinteiro.
ZOOT
A primeira caneta que comprei era uma Zoot, cujo modelo o nome desconheço (não achei essa caneta no site, deve ter sido descontinuada). Comprei em uma papelaria perto de casa, simplesmente por ser a mais barata (ou a única que eu podia comprar, no caso).
A pena era dura e tive dificuldades em aprender a escrever na posição correta, sem rotacionar a caneta nos dedos (em uma tinteiro caso você incline muito a pena para cima ou para os lados a tinta não sai. Além disso, é impossível rotacionar uma tinteiro, pois a pena só está em um dos lados, então seus dedos não podem rotacionar o corpo da caneta de forma alguma).
Na época, também não sabia que existiam conversores, então usava cartuchos.
Devido ao preço, creio, sua construção era um pouco frágil. Com o tempo, a fixação da pena com o corpo começou a soltar, tornando a caneta inutilizável. Guardo ela de recordação, já que aprendi muito com ela, porém não a uso mais.
Lamy Safari
Adiante, sedento por algo de maior qualidade e com um bom custo-benefício (não sou rico!!), comprei uma Lamy Safari.
A maioria dos sites de canetas americanos (como o Goulet Pens e o Jetpens) indicam esta caneta para iniciantes. Sua construção é robusta (como quase tudo feito na Alemanha) e a pena é aceitável, apesar de ser de aço (penas mais caras são, geralmente, feitas com materiais nobres, como prata e ouro). O corpo, feito de resina, proporciona firmeza a escrita.
Na época, comprei por cerca de R$150, hoje já é cotada a mais de 200tão (parênteses para dizer que: se você quer muito comprar algo e o valor não compromete seu orçamento, via de regra, a melhor hora é agora. Conforme o tempo passa, usualmente, os preços pioram). Nos EUA esta belezinha custa somente $30, então, para eles, é uma caneta de entrada, para iniciantes.
Diferente da primeira, esta caneta aceita o conversor universal, então comecei a usar um e a comprar tinta para recarregar.
O único problema desta caneta foi causado por uma queda acidental (toda queda é acidental, não???) que causou algum dano à pena. Ela solta tinta normalmente, mas, as vezes, dá uma engripada. Nada que comprometa a escrita, mas dá uma ativada no meu senso de toque. Talvez venha a trocar a pena algum dia, quem sabe.
Pilot Kaküno
Minha última aquisição foi a Pilot Kaküno (diz no site que kaküno significa “escrever” em japonês). Comprei por ser a única que podia financeiramente neste momento de preços estratosféricos que estamos passando em 2021.
Me custou R$120, com frete grátis e conversor incluso. Nos EUA custa só $12, sendo uma caneta para quem nunca utilizou tinteiro, para usar na escolinha.
Apesar de tudo isso, é uma caneta que escreve muito bem e têm uma fluidez boa. Comprei ela pois queria uma caneta para por tinta vermelha, que é muito útil para diferenciar alguns detalhes e emergências na minha agenda diária de atividades.
Tintas
As tintas que tenho foram sendo adquiridas no decorrer do tempo, então não tenho uma data ou um motivo específico para aquisição. Hoje, tenho duas tintas Parker, uma preta e uma azul, e três da Diamine (marca inglesa de tintas), todas vermelhas em tons distintos. Acredito que fui comprando as cores clássicas primeiro, pois são as que mais se aproximam de mim, cores comuns, sem firulas.
Canetas Ballpoint
As canetas ballpoint são assim chamadas devido a terem uma esfera em sua ponta. Essa esfera rotaciona toda vez que toca no papel, permitindo a passagem da tinta.
Tenho duas canetas com esse mecanismo, uma Parker e uma Crown.
A primeira foi um presente de um amigo, que a encontrou jogada em uma rua em Portugal (o dono descuidado deve ter deixado cair da calça ou do paletó), durante uma viagem que ele fez. Como para ele essas canetas são de pouco uso ele me presenteou com ela. Uso até hoje, um baita presente.
A segunda comprei em uma loja da Kalunga aqui da cidade. Estava lá para comprar alguns insumos de papelaria para trabalho e vi que essa canetinha estava “dando sopa” por 99 Guedes. Resolvi comprar.
Papeis e Folhas
Para escrever com caneta tinteiro é necessário que o papel tenha uma gramatura boa (média para alta) e boa absorção da tinta, caso contrário, além de ficar borrado, a escrita no verso da folha se torna impossível, devido as marcas que a escrita na frente gerou.
Gosto bastante dos cadernos da Moleskine, mas atualmente os preços estão impraticáveis (quase R$130 em alguns caderninhos). Uma alternativa que uso bastante são as cadernetas da Pombo e da Cícero, marcas brasileiras que fazem ótimos caderninhos e têm folhas de qualidade.
Também gosto da Rhodia e Leuchtturm 1917, entretanto são muito difíceis de serem encontrados por aqui (pelo menos o segundo, os que existem são importados e, via de regra, vendidos a preços demasiadamente elevados. Rhodia ainda têm algumas cadernetas, mas quando coloca o frete, geralmente fica caro). As cadernetas que tenho dessas marcas são todas oriundas da Europa, em uma viagem que fiz a Londres, alguns anos atrás.
Outra marca que nunca usei, mas gostaria de experimentar, é a Claire Fontaine, francesa.
Armazenamento e Estojos
Armazeno grande parte destes artigos em uma caixa de madeira, feita sob medida a partir de um projeto que fiz, em uma folha de papel sulfite, sem muitas pretensões, alguns anos atrás (entreguei esse projeto a um marceneiro, colega meu, que fez a caixinha).
Os artigos que uso de maneira recorrente ficam, geralmente, em cima da escrivaninha, aguardando serem utilizados.
Também tenho alguns estojos, da época de faculdade, mas, hoje, não os utilizo mais.
E é isso, estes são os artigos de papelaria que utilizo no meu dia-a-dia.
Olá, Matheus.
Espero que esteja tudo bem. Por aqui, graças a Deus, está.
Sobre: “Por este motivo, abandonei totalmente a escrita cursiva e passei a utilizar somente letra de forma.” Você e 90% dos brasileiros… rs
O oráculo sabe de tudo. O que não souber, é porque não existe. Lembrei agora a primeira vez que acessei ao Google. Meu irmão recomendou. Estava na faculdade e usava mais o AltaVista e o Cadê! Foi numa tarde, e passei quase um ano o chamando de “gugle”. Aí um perito (engenheiro civil) em meu estágio disse que se chamava “gúgol”… Tempos de descobertas!
Sobre a Zoot, é como dizia minha avó e a de todo mundo: o barato sai caro.
Conheço a Leuchtturm porque já colecionei selos (ainda tenho dois álbuns, mas não coleciono, não troco, não vendo, não compro etc., apenas os mantenho). E Moleskines são uma paixão, mas os preços são broxantes. Nunca tive coragem de comprar um! Possuem qualidade, mas o preço também segue a fama.
Finalmente vi os estojos.
Canetas tinteiros dão um clima elegante onde estão. O vidro baixinho com tinta, ela descansando perto. A pegada também é boa. Mas é um mercado que acaba nos exigindo tempo, grana e paciência para cuidar. Um mercado apenas não, um estilo, uma forma de escrever, de viver. Mas o importante é dar prazer. Paixões nos absorvem. É natural.
Gostei bastante do relato inicial sobre sua jornada em busca da boa letra cursiva. Você é o primeiro adulto que vi a topar a empreitada de voltar aos exercícios de caligrafia. Esses dias preenchi àmão uma entrevista (atividade escolar de minha filha) e lembrei de seu post anterior. Não sei mais, mesmo, escrever à mão. Como gosto muito de encadernação, há pessoas que produzem sketchbook, diários etc., para entusiastas da arte. Talvez eu compre um caderno desses (por minha paixão por encadernação), e o use para me forçar a escrever!
Qualquer dia o dono português da caneta pesquisará no “gúgol”: “brasileiros afanadores caneta” e chegará aqui.
Abraços!!
Olá, Neófito.
Por aqui também, as coisas vão bem, na medida do possível daquilo que podemos considerar.
No geral, pouca gente escreve com letra cursiva, principalmente na faculdade. Acho que ajuda a evitar a fadiga de ter que explicar que escreveu algo que o “mestre” não entendeu, fora ser mais fácil de padronizar. Fora isso, acho que a letra cursiva é muito mais elegante que a de forma, pois, no fundo, ela é sua, ninguem (acho) consegue copiar a forma com que seu punho se mexe. É como se fosse um RG natural. A tinteiro dá uma ar mais nobre a esse arte de escrever que, cada vez mais, sumirá, como tudo que é hoje colocado como brega e será mantido em círculos muito específicos (canetas, navalha, carros manuais, música clássica, etc).
Sei quão caro pode ficar esse mercado de canetas. As Montblanc, Visconti, Parker e etc chegam a custar preços de veículos. Não acredito que eu venha a comprar uma dessas algum dia, pois estão em um outro mercado, o de luxo, que não é algo ao qual eu me adeque tão facilmente.
Essa sua história do Google me lembra uma que um professor de Alemão contava. Ele dizia que um alemão veio certa vez ao Brasil e foi tomar uma cerveja com ele e uns colegas. Ele então pediu uma maltizbiér e ninguém entendeu. Falaram que não tinham. Aí ele apontou para a Malzbier, que aqui chamamos de malzêbie. E aí entenderam o que significava aquele nome “cerveja com malte”. Quando ele conta é muito engraçado.
Para muitas coisas esse lema de vó se aplica e, por incrível que pareça, quase sempre acerta.
Os estojos são simples, mas dão conta do recado. Para a atividade a que foram designados, essa qualidade já é suficiente, penso.
Tenho que admitir que, exercícios de caligrafia são muito chatos, mas, no final, melhoram bastante sua letra. São como todas as coisas ruins que acabamos passando para atingir um fim. Acho que foi uma ideia meio louca mesmo, mas, como sou meio maluco, não admiro que eu a tenha tido.
Talvez seja um boa esses cadernos. No fundo, a caligrafia é uma arte, como a pintura, e cada um de nós se adapta a alguma coisa melhor que a outras. Eu sou péssimo em desenho, mas acho que se treinasse seria um bom calígrafo. Você provavelmente também conseguirá uma boa letra com um pouco de prática, basta tentar (caso queira, obviamente!!)
Se esse português chegar por aqui, pelo menos saberá que do outro lado do atlântico, além de afanadores, alguém ainda está a cuidar de canetas e preservar um pouco da palavra escrita. Espero que ele se sinta orgulhoso e não irritado!! (Risos!!)
Abraços.
É uma arte, sim! Quando puder, confira o trabalho de Herb Lubalin, acaso ainda o desconheça.
Admiro bastante o trabalho de lettering, em especial aqueles caras que fazem cartazes para supermercado. Alguém muito bom em lettering, no Brasil, foi Ziraldo, com suas fontes únicas, muitas por encomendas do mercado publicitário. O mercado de cartazista só não acabou totalmente devido aos supermercados.
Existe todo um nicho de pessoas dedicadas a caligrafia. Gostava de acompanhar isso. Cheguei a comprar até um livro acerca do assunto e não sei onde ele está…
Tive um professor alemão (Aloi) que adorava contar seus causos sobre língua, palavras alemãs e como nós, néscios, não conseguíamos pronunciá-las. Dava para ver a altivez em seus olhos! Mas nós mal compreendíamos o que ele tentava falar em português. Nem sei como deixavam aquele cara lecionar! Certa vez, um amigo ainda lhe deu uma “sugesta”, informando que ninguém tinha obrigação intelectual de conhecer sua língua materna.
Carros manuais, infelizmente, acabarão. Eu adoro. Qualquer mecânico da esquina conserta o câmbio. Já os automáticos…
Abraços!
manual, tem esse:
https://book4you.org/book/5606630/e876f0
inclusive o site acima tem muito mais obras, algumas milhares
caixa top, bateu até uma inveja aqui
parabéns pelo design
abs!
Olá, Scant.
Obrigado pela visita.
A caixa é top mesmo, foi um conhecido que fez, sob medida, com base em um desenho/projeto que imaginei.
Ela é pesadinha, mas guarda bem os utensílios e, se não quiser colocar folhas no meio, dá para guardar revistas ou escritos. Me lembra aqueles baús antigos na frente da cama.
Eu baixei o manual, preciso dar uma lida para ver. Obrigado pela dica. A propósito, peguei a dica desse site no seu blog, até então só conhecia o LibGenesis.
Abraços!!