Moby Dick, Resumo Inacabado e a Guerra

Fazer resumos de livros , vez ou outra, me parece bastante cansativo. Ainda mais quando se trata de obras um pouco insossas e grandes.

Muitos livros, apesar de terem boas estórias, são escritos de uma forma tão sem dinamismo e sem compasso que se perdem no emaranhado dos fatos.

Moby Dick, para mim, é isso. Uma ótima estória aprisionada num corpo cansado.

Talvez, todos os clássicos sejam assim. Isso explicaria o fato de, na grande maioria das vezes, ficarem sempre guardados nas prateleiras, mas serem pouco lidos (em sua grande maioria, pelo menos….).

Moby Dick

Existia um mito sobre Mocha Dick, uma gigante baleia que atacava navios baleeiros com grande ferocidade. Provavelmente este mito inspirou a Moby Dick de Melville. Foto tirada do site do New York Times.

A estória é simples: A vingança de um capitão baleeiro que após dar luta a uma baleia assassina e perder uma de suas pernas, volta ao mar para o revanche.

A forma de contar essa estória é que é muito confusa. No início, parece que a trama será em terceira pessoa, sobre a ótica do marinheiro Ishmael, que está em busca de aventuras e acaba se alistando na embarcação de Ahab.

Entretanto, em muitos momentos, a estória parece mudar para um observador onisciente, neutro, que poderia estar em todos os lugares ao mesmo tempo.

Também, não gostei da grande quantidade de cansativas descrições científicas de coisas marinhas. Como quase 10 páginas descrevendo tipos de baleias e sequências intermináveis de capítulos descrevendo coisas presentes num barco baleeiro. As vezes, até me esquecia qual era o ponto da estória em que me encontrava….

Até tentei, de certa forma, iniciar o resumo. Mas parecia estar parado num vortex sem ideias. Então resolvi fazer algo que mais me apetece, traçar paralelos entre a literatura e a realidade, tentando encontrar alguma lição de vida.

Enfim, sobre o livro, quem quiser ler que arrisque. E se prepare, ler Moby Dick numa só tacada parece ser algo inimaginável.

Dois Loucos, Uma Missão de Mentira e o Exército Que Desconhecia Para Onde Marchava

Vi algumas notícias, ou rumores, sobre a deserção de alguns soldados russos que, ao invadir a Ucrânia, não sabiam que estavam indo para uma batalha, mas achavam que aquilo era só parte do treinamento.

Até que foram atingidos por uma bala……

Soldado russo morto durante guerra na Ucrânia. Photo by Tyler Hicks/New York Times.

Ahab usa uma tática parecida. Ao voltar de sua última batalha, finge não estar ressentido. Finge que a perda de sua perna não o alterou.

Consegue então um patrocínio para uma nova incursão ao mar, como o capitão do antigo e renomado Pequod de Nantucket, barco no qual nosso jovem Ishmael se alistará, em busca de experiências na caça de baleias.

Entretanto, após zarpar, o misterioso capitão mostra sua cólera e explica aos marinheiros que buscar tonéis de espermacete era a missão secundária daquele barco. A verdadeira intenção deles era caçar a mortal Moby Dick e restaurar a honra de seu capitão.

Assim como Putin, Ahab é ótimo em manipular e convencer a tripulação. Até oferece uma moeda (dobrão) de ouro para quem primeiro avistar a baleia.

A única diferença é que, no Pequod, Ahab está com a pele, literalmente, em jogo. Corre o risco de morrer no embate, carregando todos que o acompanham.

Do Kremlin, nosso lunático líder russo só conta números e, pelo andar da carruagem, mandou na frente os jovens e inocentes soldados, ainda em treinamento, para a prova de fogo, ou, talvez, para dentro da própria pira.

Daí fica uma boa reflexão: Podemos confiar nos nossos líderes cegamente? Devemos confiar nossas defesas, nossas vidas e tudo mais no meio à proteção do estado e daqueles que o compoem?

Acredito que não !!!

No final, o Pequod afunda após três dias de embate com a baleia. Esta termina seu serviço, levando para as profundezas do oceano o capitão e toda a tripulação do navio. Exceto um, nosso Ishmael, que nos conta essa estória.

E, apesar na aventura, Ishmael termina só, nos destroços do navio, no meio do oceano pacífico, a espera do resgate inesperado do navio Rachel.

A Russia, aparentemente, vencerá a batalha, mas, temporariamente, afundará economicamente.

No final, quem sofrerão jamais serão os oligarcas, tão fortemente sancionados pela boca dos políticos do mundo. Serão os Ishmaels da vida, trabalhadores da cidade e do campo, a classe média e todos os que passam dificuldade. Serão eles que afundarão perante a inflação, a fome, a falta de suprimentos e outras mazelas.

Nós do ocidente, também sofreremos o respingo de merda que voa no ar. Aumento nos preços do petróleo e dos fertilizantes são só indícios iniciais que esse será mais um ano de luta.

Precisamos também ficar de olho. Estamos muito mal acostumados a falsa sensação de liberdade e autonomia que o mundo tecnológico moderno nos proporciona. Mas uma só canetada de algum poder acima pode nos afundar e abalar financeiramente, moralmente e fisicamente. Pode tirar de nós anos de trabalho, finanças ajuntadas e sonhos fomentados.

Temo que o Pequod que carrega o leste europeu esteja afundando. Torço para que hajam botes suficiente para que a maioria possa voltar à costa.

Nós, do Rachel, o navio ainda não destruído, mas com cicatrizes dos embates passados, devemos nos atentar para saber que algumas batalhas não valem a pena serem lutadas. Alguns Moby Dicks devem ser esquecidos e ficar no passado e alguns capitães, sedentos por revivê-los, talvez devam ser lançados ao mar na força bruta (como sugere o 1º imediato Starbuck e também o secundário do Mito o coronel Mourão).

Antes que seja tarde demais…………

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Blog do Neófito
2 anos atrás

Olá, Mago.

Gostei bastante do resgate de Moby Dick para os tempos atuais e seu uso para o cenário geopolítico atual. E gostei ainda mais da síntese sobre certas obras clássicas, a exemplo da ora explanada: “Uma ótima estória aprisionada num corpo cansado.”. Por isso, aliás, os clássicos realmente são a causa (uma das) do desinteresse de jovens leitores pela literatura. Muitos professores empurram obras clássicas enfadonhas. Isso desanima. E juntando-se à preguiça dos alunos de hoje em dia, o resultado é o que vemos hoje.

É interessante pensa que o mundo era iluminado graças a esse espermacete da missão secundária! Como dizem por aí: o petróleo “salvou” os mares.

Sobre “Podemos confiar nos nossos líderes cegamente?”. Claro que não. O governo forte e centralizador é nosso maior inimigo. Mas, na minha visão, o Presidente comediante da Ucrania é o principal vilão desta história, especialmente contra seu povo. Explico: os eslavos não são bem quistos na Europa. Hitler os enviava a campos de concentração, não à prisão. Ainda hoje há esse estigma. O ocidente sempre quis o uso da Ucrânia para confrontar a Rússia. A identidade entre russos e ucranianos é forte. O comediante achou que seria uma boa ideia servir de peão no joguete internacional. E quem está sofrendo é seu povo, agora, nas mãos da Rússia e nas mãos do próprio governo. Homens ucranianos estão sendo sequestrados pelas milícias ucranianas para ir à guerra com uma 9mm em mãos. Se recusam, são espancados e mortos.

O Putin tem razão de ter receio da ocupação do território ucraniano por poder militar da OTAN. No futuro, isso pode lhe trazer mais problemas do que a situação atual. É o que penso a grosso modo. Enfim: o maior vilão para seu povo, no momento, me parece o próprio Volodymyr Zelensky!

Sobre “mas, temporariamente, afundará economicamente.” Isso se as ameaças de militares russos não se concretizarem, que preferem um conflito global nuclear a serem sufocados por sanções econômicas.

Quanto a “alguns capitães, sedentos por revivê-los”, discordo que isso sirva a nosso Presidente. Não sei porque pintaram o Bolsonaro com essa pencha. Ou melhor: sei. Pelos mesmos motivos que pintaram Trump como o senhor da guerra e foi um presidente que conseguiu cultivar ótimas relações diplomáticas.

Abraços!

Blog do Neófito
2 anos atrás
Reply to  Matheus

Esse trecho “Já não basta um dos membros?” junto ao seu questionamento “Putin não iria explodir a si mesmo e acabar com o mundo (Ou iria????)”, me faz concluir que, sim, a Rússia seria capaz de iniciar uma guerra nuclear se já estivesse na merda, acaso as sanções se agravem. É como o Ahab: já que perdi uma perna, agora vou até o fim. Lembrei agora de um amigo cujo pai é diabético e não se cuidava. Perdeu um pé, acho que agora não importava mais nada. Então perdeu a perna. Acho que perderá as duas em breve. É o “putin” da diabetes!

scant
scant
2 anos atrás

“mandou na frente os jovens e inocentes soldados, ainda em treinamento” controle populacional na prática. se a camisinha não funcionou, a guerra funciona

 Podemos confiar nos nossos líderes cegamente? ahahahahahahahahha

Russia – ela sempre sobrevive. a única maneira de acabar com ela seria jogar 100 bombas de neutrons e depois ainda salgar o solo.

oligarcas – casta superior é casta superior

“Estamos muito mal acostumados a falsa sensação de liberdade e autonomia” -liberdade é uma ilusão tão real como coelhinho da pascoa

abs

scant
scant
2 anos atrás

“fiquei na dúvida se defender a pátria é um dever, se é uma missão que vale a pena.”

se o brasil entra em guerra e me chamam:

  • me declaro mullher trans e fujo pro canadá ou uruguai
  • se faltar 5 anos pra minha aposentadoria, me aposento como se mulher fosse
  • pra evitar problemas, peço pra minha mulher se declarar homem trans (ou sei lá o nome certo)
  • melhor ser um covarde vivo a heroi morto de guerra

https://www.youtube.com/watch?v=2iY7-7dkKrU

Last edited 2 anos atrás by scant
Blog do Neófito
2 anos atrás
Reply to  scant

Defendo no máximo o meu quintal. Não vou à guerra para a elite ficar em casa tomando uísque 18 anos e, findo o conflito, garotos de saia cuspirem em minha cara me chamando de fascista. Que nos sirva a lição de Rambo, que à guerra, voltou maluco e não podia nem comer um sanduíche na lanchonete.

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