A variante P3, a destruidora de alunos

Não, não falarei do comunavírus (Nem direi que ele veio da China, para precisar me retratar). Também não falarei de suas variantes, apesar do título ser bem chamativo devido as notícias recentes sobre variantes P1. Foi uma delas, inclusive, que me fez lembrar do assunto deste texto e escrevê-lo. Nossas ideias realmente aparecem do nada mesmo.

Sobre Faculdade & Provas

Quando eu fazia faculdade de engenharia as provas do meu curso eram feitas em 3 etapas. A primeira era a P1 (prova 1), feita na metade do semestre. A segunda era a P2 (prova 2). Essa última era feita no final, após todas as aulas, e contemplava toda a disciplina – em tese – do curso.

A média do aluninho era calculada de forma ponderada, da seguinte maneira:

Nota Final = [(p1x0,4)+(p2x0,6)]xf

Como a primeira prova continha menos assuntos, tinha peso de 40%. Havia ainda um fator “salva vagabundo arrombado”, que era dado com base nas notas dos trabalhos e atividades que o professor resolvesse passar, podendo chegar até 1,25 (ou seja, aumentava 25% da nota do cara para ele se salvar).

Mas espera aí, você não disse que era em 3 etapas???

Sim, havia uma terceira prova, a P3. Essa era feita na semana seguinte a P2. Se, depois de fazer todo esse cálculo, o desgraçado não conseguisse fechar com 5 era dada uma terceira chance, em uma prova que os professores mais irritados costumavam comer o c* dos alunos com questões mirabolantes (já que teriam que fazer outra prova – apesar de muitas dessas já serem uma cópia xerox da prova de 1985, quando eles fizeram isso pela primeira vez haha). Essa prova entrava no lugar da P1 ou da P2, aquela que desse a maior nota.

F(un/o)dição

Bem, chegamos ao assunto principal deste texto. Fundição (ou seria fodição).

Um cadinho vazando no molde, não é algo belo de se ver??

Chegava eu ao 6º período dessa bagaça, me salvando sem nunca ter feito uma P3 na vida. Entre meus colegas eu era o rei, o nerd, aquele que nunca caia diante dos mais temidos professores. Já havia passado por todas as disciplinas de desenho, mecânica dos fluidos, transmissão de calor & termodinâmica, passado pelas difíceis provas de mecânica dos sólidos, até que conheci A (cujo nome tratarei pela letra inicial de seu nome para que ninguém saia procurando sua identidade no Facebook ou Lattes, vai saber).

A era o professor de fundição. Um velho posudo, engomado, que gostava de contar vantagem, dizendo que havia conhecido várias fundições e que a fundição dele era foda (ele tinha uma pequena fundição, que nunca soubemos o nome).

Suas aulas eram demasiadamente chatas e cansativas, e seu pedantismo para com a lista de chamada, marcando faltas para os alunos que estavam na aula e esqueciam de responder suas chamadas (pois estavam conversando sobre festas, fazendo trabalhos de outros professores ou dormindo), deixavam até os alunos mais retardados malucos. Além disso, ainda dava atenção maior para as beldades da sala, deixando os cuecões de couro loucos quando faziam perguntas e eram respondidos de maneira ríspida e rápida.

A P1 de fundição era uma piada. Uma prova de x’sinho com várias questões que estavam no texto dos slides passados em aula.

A primeira parte do semestre era só slides e mais slides explicando o processo em uma sala embebida na penumbra, ótima ocasião para dormir um pouco depois de um dia cansativo de trabalho.

Na primeira prova, fui apreensivo e tirei 7. Nota ok. Essa disciplina, por escolha de A, não teria fator (f), ou seja, precisava tirar na P2 algo em torno de 3,67.

“Enem” como eu dizia para meus colegas para dizer que a prova ia ser fácil e já estava no próximo semestre sem problemas. Mal sabia eu o que me esperava!!!

Lá fui eu então, para a segunda metade do semestre. Na segunda parte, éramos instigados a desenhar alguns projetos de fundição. Ele mostrava no slide, desenhava algumas coisas coxas na lousa, e mandava que fizéssemos algo parecido no caderno. As aulas eram cheias de vídeos de projetos de motores fundidos, sinos, pedaleiras e outras coisas feitas com metal sendo entornado nos moldes.

Cheguei ao dia da segunda prova confiante (afinal, não precisava tirar nem 4). Fiz, saí dando risada e contando vantagem com meus colegas que também riam, já que a prova havia sido um desenho de um molde facílimo.

Esperei a nota por cerca de 3 dias. Imagine a surpresa quando descobri que tirei ZERO.

Isso mesmo, um grande ZEROOOO. Escrito com uma bola bem grande na folha.

O que vou dizer pra minha mãe agora???

Pedi revisão da prova. Ao chegar na sala A pediu meu nome completo e meu RA (RG do aluninho na faculdade). Passei e ele liberou minha prova, para que eu olhasse, e me deu uma outra folha com a resolução da prova, feita a mão por ele e xerocada.

Havia acertado tudo, escolha de material para fazer a peça no tipo de molde pedido, ângulos de saída da peça (para facilitar a remoção sem causar danos ao molde e à peça), desenho e projeto. Estava tudo lá. Ainda assim, minha nota havia sido zero.

Me levantei e fui ao palanque onde se encontrava a cadeira do professor. Segue um trecho com o que me lembro dessa discussão:

-Professor, tenho uma dúvida aqui.

-Fala aê. (com aquela voz de malandro pedante)

-Olha, minha prova está exatamente igual a resolução, não faz sentido eu ter tirado zero, devia, se eu tiver errado algo que não vi, tirar pelo menos 5.

-Me dá sua prova aê.

Entreguei a prova pra ele e ele ficou uns 20 segundos olhando para a folha.

-Faltou a guia do molde, olha aqui.

Eu disse que era um péssimo desenhista!! Em preto, como eu fiz, em azul, como deveria ser. Diga-se de passagem, esse desenho é só uma ilustração, ficou parecendo o chapéu/cobra do pequeno príncipe.

Olhei para o desenho e, realmente, havia esquecido a porcaria da guia.

-Ok, faltou a guia, mas, veja bem, um operador de fundição jamais iria esquecer de colocar a guia quando fosse fazer a peça. Além disso, só faltou a guia no desenho. O resto está tudo certo, não é possível que você não me dê nem 4 pelo resto.

-Mas você é engenheiro, se você esquecer a guia no molde está errado, ele vai ficar solto. E não existe errado pela metade, por isso zero.

Depois de ouvir isso disse “ok” e saí da porcaria da sala.

Tirando o fato de que algumas gostosas haviam tirado notas quebradas (tipo 3,75) e passado, não me deixei abalar, apesar da raiva.

Fui para minha primeira P3 na vida.

Era um dia de sábado. A prova estava marcada para 8h da manhã. Havia trabalhado na sexta anterior durante a noite, até 23h, e estava cansado.

Sábados são dias reluzentes, não sei por que. Algo ocorre no universo durante os finais de semana, pois os sábados e os domingos sempre têm um ar diferente. Feriados durante a semana não carregam essa aura, esse brilho dos sábados e domingos.

Enfim, me encontrei com alguns colegas e nos dirigimos as salas. Chegando na prova, olhei para a folha e era a mesma peça da P2. Que desgraçado!!! Fiz novamente o desenho e coloquei as guias, ou pinos, bem grandes, para não dizer que eram invisíveis, e vazei.

A nota veio e foi um grande 10. Mas senti que era melhor ter tirado um 4 na primeira. Maldito Professor, me fez perder um sábado reluzente!!


Viria a me encontrar com A novamente três semestres após essa prova, mas esse segundo encontro foi mais brando, já que ele era o professor secundário da disciplina.

Se leu até aqui, abraços e uma ótima semana.

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Neófito
3 years ago

Olá, Mago!

Precisei fazer uma pesquisa de manchetes aqui para ver o que seria essa variante do vírus que veio da China, de uma cidade onde há laboratório de pesquisas virais, mas que não se pode dizer como vindo da China. Ah esse 1984 e sua novilíngua…

Tive muitos professores FDPs, frustrados na vida, que nos davam dor de cabeça. Mas felizmente aprendi, cedo, a contorná-los, apenas aceitando suas vaidades, me submetendo à sua forma de ver as coisas e lhes dando meu esforço pessoal da maneira que eles achavam melhor.

Os melhores professores que tive sequer faziam chamadas, pois as pessoas faziam questão de estar ali, em suas aulas. Os piores, faziam chamadas no início e no final da aula, para ninguém escapar de sua amargura e incompetência em lecionar.

Gosto de reciclagem e fundições. Acho interessante o funcionamento de ferro-velho e de fundições! Onde moro atualmente, não há grandes fundições, sequer siderúrgicas. Mas quando vou a um ferro-velho, a serviço, me impressiono com a separação de materiais e os equipamentos (esteiras, prensas etc.).

Conheço gente que hoje é riquíssima com sucata e reciclagem.

Abraços!

Neófito
3 years ago
Reply to  Matheus

Ferro velho só de bastante ferro comprado a preço baixo, alumínio, cobre etc. De plástico e papel, só dor de cabeça. Os recicladores de plástico e papel que conheço não estão muito bem das pernas…

O de garrafa pet deveria ser bom, a princípio. Mas vejo muita gente da área reclamando.

Meu pai utiliza fundição de prata regularmente para fabricação de espelhos. Nunca me envolvi demais com as coisas dele. Mas ele prefere terceirizar o serviço!

Abraços, Matheus!

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